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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O PROSTITUTO (qualquer semelhança é mera coincidência...)


       
“Sensual, lábios carnudos, corpo malhado, e topo qualquer parada, minha especialidade você vai saber de pertinho, pois vou fazer você arrepiar de tanto prazer, você vai se deliciar com 1,86 m de altura, 79 Kg, olhos castanhos claro, cabelos arrepiados e negros como a noite de amor. Me encontre hoje através do nº (088) 3775-6676 e conheça alguém que nunca mais você vai esquecer...”

Nojo é o que sinto quando me lembro desse tempo, essas palavras ainda soam em meus ouvidos como um pai que vive cobrando o tempo todo de seu filho passar no vestibular só porque ele paga um absurdo com cursinhos.
Sou Jhon, tenho 28 anos e o que você acabou de ler descrito ai em cima era meu anúncio nos jornais da cidade promovendo o meu trabalho, sim, eu era profissional do sexo, mais popularmente chamado de “O Prostituto”.

Hoje sinto a maior vergonha do meu passado, sinto-me o mais sujo de todos os homens, a minha culpa só não é maior porque sei que estou perdoado. Fugi de casa aos 15 anos de idade, minha mãe coitada, apanhava toda semana de meu padrasto alcoólatra e maconheiro, meu pai não sei quem é, minha mãe nunca me contou e toda vez que eu lhe perguntava sobre ele, ela abaixava a sua cabeça e eu percebia que sempre corria lágrimas de seus olhos, então por isso, nunca insisti em saber a verdade. Isso para mim é um mistério, muitas coisas já passaram pela minha cabeça sobre ele, mas, deixa que o tempo quem sabe, possa um dia me trazer alguma resposta.
Vivi perambulando pelas ruas, meus amigos não passavam de parceiros de rua, e como éramos unidos, logo que vivíamos nas mesmas condições, ou seja, navegávamos no mesmo barco, nossa confiança era daquela do tipo um “pé na frente e outro atrás”, afinal, cada um tinha seu passado marcado pela dor e pela obscuridade.
Nas ruas era muito difícil viver, as drogas não eram para mim, por mais que eu necessitava de uns trocados, sempre tive medo de ser pego pela polícia ou pelos guardinhas de farda, não tive alternativa senão viver ao acaso e nas ruas, em casa o clima tava “barra” demais, e nem por isso eu deveria me envolver com a “praga” do tráfico.
De alguma forma eu deveria obter dinheiro, porém, as pessoas não me deram oportunidades de viver de maneira digna, nunca consegui obter trabalho, porque toda vez que me questionavam sobre minha família, eu apenas preferia responder “fugi de casa” e nenhuma palavra a mais, então as pessoas apenas respondiam “sinto muito, não temos vaga”.
Um dia eu estava numa calçada sentado e chorando muito, pois jamais imaginei viver daquele jeito, eu sempre fui um adolescente sonhador, sempre me imaginei de terno e gravata trabalhando numa empresa, assim como nas cenas de novela que eu assistia quando em casa estava tudo bem.
Aproximou-se de mim então, Bela, eu já estava com 22 anos, chinelo de dedo, camiseta cavada branca e short de futebol azul que eu havia ganhado numa aposta durante a Copa, eu era bastante forte porque os “mano” da rua tinham barras de ferro com latas de tinta com concreto dentro nas pontas, onde faziam exercícios de musculação com elas, e eu sempre estava com eles, éramos “mano” de verdade, os cara sempre me consideravam muito, porque na gíria deles eu era “sangue bom”.
Bela acariciou minha cabeça e me perguntou:
_ Por que ta chorando “muleque”? Olha o seu tamanho, homem dessa idade não chora.
Mal sabia ela o que se passava na minha cabeça, um filme com cenas do passado e cenas do meu futuro que imaginava alcançar, e agora eu ali, abandonado por Deus e o mundo e uma mulher me chamando de “muleque”.
Olhei pra ela soluçando e respondi-lhe simplesmente:
_ Não sou “muleque”!!! Não sou “muleque”!!!
_Hummm, vejo que você é um “guapo”, se quiser mudar de vida vem, e vem logo.
E Bela virou as costas e andou, ela já estava acostumada a fazer esse tipo de papel, foi assim que muitos “guapos” mudaram o rumo de suas vidas entregando-se aos prazeres da vida, e eu, estava nisso agora.

Lembro-me disso como se fosse hoje, Bela me levou num ambiente completamente imoral, mas era a chance que eu tinha de ser alguém, pelo menos eu achava isso, estava totalmente perdido, sem rumo, sem dignidade, um “Zé ninguém” que poderia aproveitar aquela oportunidade e mais a frente, quem sabe, quando me organizasse eu poderia mudar tudo de novo.
A partir dali, fui bem recebido pela turma a qual me apresentara como “O PROSTITUTO”, nunca vi ninguém me valorizar tanto quanto aquela gente. Eles me respeitavam demais, mais é claro, eles viram em mim um potencial de fazer daquela casa de prostituição a mais bem quista do bairro, porque minha auto-estima estava tão baixa que eu nem me dei conta do quanto eu era “guapo” mesmo.
Aprendi muita coisa, viver na rua foi uma escola mesmo, pois eu tinha idéia do que agradava as pessoas, principalmente aquelas que freqüentavam aquela casa.
Tornei-me muito requisitado, eu fazia tudo bem feito,e quando digo “tudo” era “tudo” mesmo, eu era o melhor e não foi à toa que conquistei a fama.
Por mais que eu conquistasse tudo que eu desejava, eu não estava feliz daquele jeito, comecei a entrar em crise, pois vivia um paradoxo, estava ganhando tudo, mais era de maneira imoral.
Certa noite, eu estava numa casa de show, acabara de fazer uma performance “O PROSTITUTO” mais uma vez arrasou, fez o maior sucesso, até nos principais jornais da cidade começou a circular notícias a meu respeito, contando parte da minha vida e como cheguei ao sucesso, grande coisa...
Acabei de fazer a performance e fui me sentar numa salinha que tinha só pra eu ficar com quem eu quisesse, porque o meu chamariz também era para eu faturar com os meus “programas especiais”à parte, todavia aquele dia parecia que estava marcado na agenda de Deus, se é que Ele tem uma agenda...


Sentei naquele sofá vermelho sangue, o ambiente escurecido somente com luzes de boate ao fundo e aquele som de música típica de uma casa de shows marcavam aquele momento, disse aos meus assessores que eu não queria receber ninguém naquela noite, eu não estava a fim. Estendi meus braços de um lado da poltrona ao outro, havia afrouxado minha gravata preta e aberto minha camisa branca, e em minha mente começaram a passar cenas e mais cenas de tudo quanto eu havia feito, desde minha infância à minha fuga de casa, desde o convite de Bela à minutos antes de eu estar ali, lágrimas começaram a correr dos meus olhos e meu coração estava muito apertado, angustiado.
Na minha frente encontrava-se uma mesinha com algumas revistas e no meio delas havia um pequeno livro que me chamou atenção, peguei aquele livrinho de capa acinzentada, abri e li, quando me dei conta do que era.
Era uma bíblia sagrada, daquelas que se encontra em todo lugar, senão me falha a memória, era daquela instituição ou grupo, sei lá o que é, chamado Gideões.
Ao ler, chorei desesperadamente, porque, por incrível que pareça, parecia que era Deus falando comigo, pois estava escrito: “Ainda que me abandonem pai e mãe, o Senhor me acolherá. (Salmos 27:10)

Ali parecia que algo falava ao meu coração, percebi naquele momento o que estava faltando para mim, eu não tinha Deus na minha vida, nenhum momento eu atribui todas s coisas a Deus. Desde a minha infância aprendi que Deus estava sempre comigo, eu tinha essa segurança, mas a verdade é que eu não O conhecia, logo que, quando todas essas coisas começaram a fazer parte da minha vida, eu não pensei em Deus, se eu estava agradando-O ou não.
Nossa! Como foi doloroso aqueles minutos para mim, ora meu coração encheu-se de alegria porque de certa foram eu sabia que Deus estava ali ao ler aquelas palavras, eu sabia que Ele estava me abraçando, aquele vazio, aquela sensação de angústia não mais me cercara. Mas ao mesmo tempo, meu coração enchia-se de arrependimento, e eu pedi tanto perdão à Deus naqueles momentos, e meu choro se misturava com risos de alegria.
Então, na minha mente começaram a surgir cenas de pastores daqueles programas evangélicos que passa na TV de madrugada, dizendo sobre arrependimento, sobre aceitar Jesus, aquele papo todo de crente e tals...Tudo estava planejado por Deus, hoje não tenho dúvidas disso.
Quando eu era garoto de programa, eu chegava de madrugada em casa, e ao ligar a TV sempre estava passando pastores pregando, orando, cantores de músicas de Deus, cantando, eu não trocava de canal porque era como se eu estivesse “barganhando” o peso de minha consciência assistindo aquilo, aliviava o peso que eu guardava sobre mim.
Eu só não sabia que na verdade, aquilo serviu como semente em meu coração, porque naquele dia eu estava me lembrando perfeitamente daquelas palavras, foi então que resolvi confessar Jesus em minha vida.
Ah, que alivio eu senti naquele dia, como se todo o peso de culpa tivesse saído de, sobre mim. Como foi gotoso eu sentir que alguém me amava de verdade. Porque até então, os amores que eu tinha, eram comprados com fama, com dinheiro, com carros, com prazeres...
Quando fiz aquilo, impulsionado talvez pelo Espírito, disse um “basta” pra mim mesmo, daquela vida de perdição. Saí daquele local sem me despedir de ninguém, entrei no carro e sem rumo fui andar pelas ruas...

Naquela mesma semana tive diversos sonhos, eram sonhos bons com Deus, procurei uma igreja e conversei com um pastor, como foi prazerosa minha conversa, porque aquele homem realmente era um “homem de Deus”.
Ele recebeu como se eu fosse “gente” de verdade e não como um objeto onde as pessoas sempre me tratavam, foi diferente, foi melhor do que eu pensei, porque nessas horas eu pensava em tantas coisas.
Com isso aprendi que tem coisas que se pensamos demais não vamos fazer, porque iremos ver apenas os pontos negativos.
“O PROSTITUTO” morrera com minha decisão, mas eu não sai por baixo, não fugi das pessoas com as quais eu convivia, seria muita ingratidão da minha parte, e na minha veia ainda corria sangue daquele garoto que um dia sonhava em ser alguém sem passar por cima das pessoas, ou sem reconhecer o que as pessoas fazem pela gente.
Por eu ter ficado um bocado de dias sem falar com a “minha família”, meu celular estava com a caixa de mensagens lotadas de ligações perdidas, aquelas pessoas que me acolheram e me fizeram ser reconhecido por todos da cidade estavam preocupadas com meu sumiço, eu fui visitá-los, todavia eu não contei-lhes o que havia acontecido comigo, só disse-lhes que tive que resolver problemas muito sério, mas que eu não gostaria de comentar com eles naquele momento, preferia deixar passar ainda alguns dias até que se resolvesse.
 Eles estranharam, é claro, mas respeitaram minha decisão de não contar-lhes nada, afinal eles ainda precisavam do “O PROSTITUTO”.
Agia como se estivesse tudo como antes, mas eu agora olhava para eles com outros olhos, como se eu tivesse pena deles, daquela vida que alguns levam ainda.
Eles disseram a minha agenda de “shows” e eu fui para os preparativos então, a diferença é que para mim pouco importava como seria montado as coisas, pois os meus objetivos agora eram outros.

Na hora que anunciaram o show da minha performance, a galera toda que já me conhecia pela fama que eu havia adquirido, gritavam desesperadamente sem cessar: “O PROSTITUTO” cadê você, eu vim aqui só pra ti ver”, “O PROSTITUTO” cadê você, eu vim aqui só pra ti ver”.
Eu entrei... quando entrei as pessoas começaram a silenciar aquele lugar, o palco era só meu, o holofote estava somente em mim, nada mais aparecia senão eu...
Eu segurando um livrinho de capa acinzentada, o mesmo livrinho que um dia mudara a minha vida...
“_Jesus respondeu: "Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’".(Mateus 4:4)...”
_“Ainda que me abandonem pai e mãe, o Senhor me acolherá.” (Salmos 27:10)... "
_“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.”(João 3:16)...
_"O tempo é chegado", dizia ele. "O Reino de Deus está próximo. Arrependam-se e creiam nas boas novas! "(Marcos 1:15)”
_ “Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo.(Romanos 10:9)”
Somente ao ler aqueles versículos bíblicos que um dia tocaram profundamente o meu coração, muitos começaram a chorar, principalmente aqueles que um dia conhecera a Jesus, mas o abandonara pelo caminho, outros, como era de se esperar, começou a zombar e se retiraram do local, orei muito por aquele momento, para que Deus me desse forças, sabedoria, e derramasse unção sobre a minha vida.

Compartilhei a minha vida com aquele povo, chorei junto com eles ao me relembrar de tudo, porém tenho plena certeza de que muitos ali tiveram o passo inicial de mudar completamente de vida.
A partir de então, cumpri minha agenda de “shows” da mesma maneira, houve alguns impedimentos até compreensíveis, seria estranho aceitarem agora o “show” que eu fazia, porque muitos empresários das casas de “show” viajavam para fora do país, por isso, nem sabia o que eu estava fazendo, caso contrário as portas se fechariam facilmente.
Hoje não comungo da fama, muitos se afastaram completamente da minha vida, outros se converteram com o meu testemunho, inclusive Bela para minha grata surpresa, todavia sou feliz de verdade, porque descobri que as coisas apenas camuflam nosso coração com ilusões e quando nós despertamos para a nossa condição, caímos literalmente num abismo de trevas.
Minha vida mudou, meus sonhos em Deus estão sendo reconstruídos, faço faculdade de Administração e um dia aquela cena que eu tinha quando garoto, de um homem trabalhando numa empresa com terno e gravata vai se tornar realidade.
Estou a procura de minha mãe, tenho esperanças de encontrá-la, enquanto isso, tento mudar a realidade daquelas pessoas que precisam de alguém que as olham de maneira diferente, que vejam que por trás daquelas “máscaras” existem um ser humano que carece de amor...

Oi, sou Jhon, tenho 28 anos, casado, tenho uma família linda e você quem é...?



 autoria própria por: Natalino G. da Silva

<<estória fictícia>>





 

"  Pois nada é impossível para Deus".  Lucas 1:37



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